terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Rotina antes de sair de casa

A rotina começa uma hora antes, à procura do gato. Uma vez assegurados que o gato não está preso em casa, mas ainda assim deixando uma fresta da janela da casa-de-banho aberta, caso ele queira entrar e sair, dá-se a etapa seguinte. Esta consiste em fechar as portas, janelas, portões e cadeados todos e leva 20min. A próxima etapa é tirar o carro da garagem a qual também leva 20min. É uma etapa que tem vários passos como abrir o portão, entrar no carro, fazer manobras, fechar o portão e entrar no carro novamente... Em seguida, já dentro do carro mas ainda à porta de casa, seguem-se 20min de interrogatório um ao outro sobre se viram o gato e se fecharam a porta X, Y e Z, sobre se trouxeram o telemóvel, as chaves, malas e afins... 


Por fim, arrancam.

Estás Tão Magrinho!

Sempre que o Menino a vem visitar, a Avó diz sempre:

- Estás tão magrinho!!!

E logo trata de encher o neto de comida. Mesmo quando ele estava gordo, ela dizia que estava magrinho...
Uma vez disse-lhe que estava gordo, com um riso carinhoso, o que foi um milagre! Fiquei a pensar se não teríamos entrado num universo paralelo... Mas continuou a enchê-lo de comida ao mesmo tempo que lhe dizia que tinha de perder um "bocadinho" de barriga. E eu do lado, que estava ainda a processar o universo paralelo, pensei: Só um "bocadinho"?! Parece que voltámos ao normal...

Ele perdeu e, agora ela voltou a dizer que está muito magrinho e que perder tanto peso faz mal! Continua a querer enchê-lo de comida, claro, ficando espantada quando este diz que está cheio:

- Mas não comeste quase nada!

Comigo é diferente. Comigo ou não diz nada, ou diz-me para meter a barriga para dentro. Mas enche-me de comida à mesma. Ou tenta. Eu aprendi a dizer não. Ainda se me chamasse de "magrinha" também... Está ali o mano ao lado com uma barriga maior do que a minha, mas ele é "magrinho" e eu tenho de encolher a pança...
Quando recuso comida, parece que eu a estou a ofender... Se ele recusa, é porque está doente...

O que a Avó vê VS Realidade
Dizer não ao álcool ou às drogas não é nada em comparação a dizer não à Avó. Ela finge que não ouve e quase que chega ao ponto de nos enfiar comida pela goela abaixo! Como se passássemos fome na sua ausência!

Uma vez perguntei-lhe... Ela acha mesmo que nós não comemos nada, quando não é ela a fazer... Acha mesmo que se não é ela a meter comida no nosso prato, nós não nos sabemos servir... Acha mesmo que se não é ela a cozinhar, nós não sabemos como...

- Oh Vó, eu vivi estes anos todos sozinha, quem achas que cozinhava? - perguntei-lhe por fim.

- Não sei... - respondeu ela muito pensativa.

Explodi por dentro...

Mas quem é que havia de ser?! 


E desisti da conversa... Vivemos realidades muito diferentes e não forma de a fazer ver a minha.

A Lição do Arroz Doce

- Gostas disto? Eu gosto disto!

Conselho:

Diz que não.
Diz que não ou ela vai enfiar-te no prato para tu comeres. Tu comes e ela mete mais. E não pára até não ter mais... Para a próxima compra o que quer que seja em maior quantidade, e o ciclo repete-se cada vez com maior intensidade! Por isso diz sempre que não. Nunca gostes de nada. Até mesmo chocolates. Ou realmente hás-de passar a detestar chocolates, ao ponto de nem poderes olhar para eles no supermercado. E depois a avó irá dizer:

- Mas tu gostavas tanto!!!

E vai continuar a comprar.

Hoje, o meu irmão não pode ver arroz doce, sem ficar nauseado. No entanto, sempre que ele vem cá ela ainda faz arroz doce. Porque se lembra que ele gostava muito... Ele devorava arroz doce... Então hoje, de todas as vezes, ela ainda se espantada quando ele recusa comer a sobremesa:

- Mas tu gostavas tanto!!!

- Ah, eu já estou cheio...

- Tu?! Cheio?! Mas não comeste quase nada meu filho... Estás tão magrinho!

O Arroz Doce para o Menino de Ouro

O que me remete para a história seguinte...

Sal

Sempre que a Avó cozinha, há algo que se repete:

- Tem pouco sal, queres mais sal? Eu não gosto muito de sal... O sal faz mal, sabes? Não se deve meter muito sal na comida. Eu não meto quase nada, gosto mais assim. Mas as outras pessoas podem gostar de mais sal... Gostas com mais sal? Queres mais sal? A Avó vai buscar ali e metes à tua vontade... Mas não metas muito que faz mal! Tens de mexer bem... Zé, queres mais sal?


Dia de S. Valentim

O dia de S. Valentim estava a aproximar-se e numa das nossas aventuras no shopping, passamos por uma loja de lingerie. Como é óbvio, aproveito a oportunidade para a "picar":

- Qual é que vais usar no dia dos namorados? - pergunto-lhe apontando para a montra.

A Avó começa a rir, aponta e, com um sorriso maroto, responde:

- Aquela mini-saia ali! - voltando a rir-se com a ideia.


Os Velhotes

A Avó tem muita pena dos velhotes:

- Coitadinhos dos velhotes...

Por vezes aponta para aquele velhote ou ri-se das figuras daquela velhota:

- Coitadinha...

Acontece que estes "velhotes" são quase sempre mais novos do que ela.


Sobrancelha e Buço

- Olha lá, estás doente? Estás com uma cor esquisita! - diz uma Avó muito aflita a puxar-me para si, com uns olhos muito abertos, já a imaginar o pior.

- OH VÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ!!!!! Fui fazer a sobrancelha e o buço!!!! Aí a minha vida.......


Será que nunca tenho uma cor saudável?!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Poi!

Sempre que a Avó faz caldo verde e está a cortar as couves, ou simplesmente passa pelas couves no quintal, diz o seguinte:

- Isto faz bem, sabes p'ra quê? P'rós ossos! Não é?

- É... - mesmo que não seja digo que sim, que ela fica contente.

- Poi! - diz ela toda contente e orgulhosa de si!


'Tás Amarela

Isto é algo que se repete frequentemente:

- Estás menstruada? 'Tás amarela!

- Não.

- 'Tás doente?

- Não.

- Mas então que tens, que 'tás amarela?

- Nada!

- 'Tás bem?

- SIM!

Porquê que se repete tantas vezes, não sei... Por vezes penso que pode da luz, da maquilhagem, do cabelo, da falta de sol no Inverno... Ou apenas o reflexo dos medos da Avó nos seus próprios olhos... A verdade é que já não a posso ouvir quando começa com isto... Para a próxima vou dizer que sim e ver o que acontece. 



Mon Chéri*

Estou na cozinha, entretida com o telefone, mas pelo canto do olho vejo a Avó entrar.

Ela vê uma caixa de Mon Chéri* no armário e vai direta a ela, entoando Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon Mon, até conseguir abrir a caixa e meter um chocolate na boca.

Feito isto, vai-se embora.

Eu fico uns segundos a tentar processar a cena e decido voltar ao telefone. Desta vez, contudo, para escrever no bloco de notas, o que tinha acabado de acontecer.


Mosquinhas Com Perninhas

- As mosquinhas com perninhas não desaparecem!

- O que são mosquinhas com perninhas?

- São aquelas pequeninas que tu dizes que viste na sopa, disseste que tinham perninhas.

De repente sei exatamente do que ela está a falar. Nesse dia, como em muitos outros, viu-me meter qualquer coisa de parte no prato...

- O quê que já estás aí a catar?

- É uma mosca!

- Não é nada! Isso é uma couvinha! 

- É uma mosquinha!!

- É um pedacinho de couve!

- Eu vejo melhor que tu, e estou-te a dizer que é uma mosca!

Esta discussão levou uns minutos, onde eu a dada altura digo a tal frase que ela, pelos vistos, nunca mais se esqueceu:

- Não é nada couve! Olha aqui as perninhas!



Sopa Ao Pequeno-Almoço

Acabo de acordar, encho uma caneca com leite e sento-me no sofá. A ideia era disfrutar de uns momentos a sós, mas logo entra a Avó:

- Queres sopinha? Queres bifes? Queres romãs? Queres bolo? Queres café? O quê que tu comes? A Avó não sabe! Uma sopinha...

- Vó! Acabei de acordar! Já tenho o que quero!

- Mas já é uma!


A Vaca Margarida

A Avó fala muito na sua vaca leiteira de estimação, nos seus tempos de infância no Alentejo... Conta sempre o mesmo, mas sempre com o mesmo entusiasmo e risadas!

A Margarida era uma vaca a quem só ela conseguia tirar leite (quando conta esta história, a avó faz os gestos para exemplificar como se faz) e, que a seguia para todo o lado. Era a sua sombra. Bastava ela chamá-la, que lá vinha a vaca a correr ter com ela, de onde quer que estivesse, como se a Avó fosse sua filha. Até a seguia para a escola, conta a Avó às gargalhadas! Quando saía para a escola de manhã, a vaca seguia-a pela vedação, mas se se esquecia do portão da quinta aberto, então a vaca aparecia-lhe mesmo na escola! Diz a Avó que era uma vaca que mais parecia um cão! Costumavam dormir a sesta juntas e tudo, a Avó com a cabeça apoiada no lombo da amiga.

Não sei o que aconteceu à vaca... A história que lhe venderam e que ela repete, é que a vaca Margarida fugiu... Mas eu tenho sérias dúvidas e penso que a Avó também... E penso ainda que é por isso que ela fala tanto na Margarida, estes anos todos depois.




Abelhas São Amigas

A Avó por vezes relata episódios da sua infância no Alentejo, onde os pais tinham uma quinta com animais. Mas eu desconhecia que tinham tido abelhas até ela me contar o seguinte:

- Sabias que as abelhas conhecem as pessoas? Lá na quinta, eu chegava-me ao pé delas, não me picavam. As minhas amigas iam lá eram todas picadas.


Romã

Depois de jantar, a Avó passa-me um prato com romã já preparada e diz-me:

- Tens aí umas pontinhas brancas amargosas, depois tiras!

Então estava eu a catar os pedaços de casca, de cada grãozinho quando me lembrei de um vídeo no YouTube, sobre como descascar uma romã.

Decido mostrá-lo à Avó:

- Ah... Ah, não me digas que só aos 84 anos é que aprendi a descascar uma romã!

Ficou tão contente que nem uma criança e, passámos horas a ver vídeos no Youtube sobre como descascar todo o tipo de fruta.

Tudo por causa de umas pontinhas brancas amargosas numa romã...


Nome Esquisito

- Quando é que o... Quando é que o... Ke... Quando é que o Ke-Kevan... Quando é que o Kevan vem cá?

- Quem?

- Kevan...

- Clovis.

- Quando é que o Clovan vem cá?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A Placa

Desde que conheço a Avó que ela se queixa da placa (dentadura para os meros mortais)... Ou está apertada, ou está larga... Geralmente está larga, porque se aperta, ela vai buscar a placa anterior... Sim, ela guarda-as, claro! Nunca se sabe quando pode ser útil...

Então ao almoço ou jantar... Ou sempre que come... Quem está à mesa ouve sempre um som "crunch crunch"...

Estará a comer batatas fritas? Estará a comer cereais? Estará a comer bolachas?

Não...

É só a placa a dançar...


O Perdigoto Voador

Estavamos a fazer uma cama de casal, ela de um lado e eu do outro. Não sei do que falávamos, mas a data altura há um perdigoto que salta da boca d'Avó, atravessa a cama de casal e aterra no meu lábio inferior! Ainda o sinto passado meses desde esse dia...

Se têm lido o que escrevo, podem imaginar a minha reação...

- Ewwwwwww!!!!! Vó!!!! Que nojo!!!

Seguindo-se algo como:

- Mas como é que é possível?!?!?! Temos uma cama a separar-nos!!! E com tanto sítio para aterrar tinha de ser logo na minha boca?!

A avó só se ria...

Eu já mantenho por norma uma certa distância de segurança, pensei que uma cama de casal entre as duas era mais do que suficiente... Mas se calhar preciso de manter duas marcas de segurança entre as duas, como nas autoestradas... Sim duas, porque uma é perigo!



Ah, mas a culpa é da placa que está larga... O que me leva à história seguinte...

Quando o Neto Preferido Vem Visitar

É impressionante como a Avó se transforma quando o neto preferido os vem visitar.

Arranja o cabelo, mete blush, veste uma roupa bonita e grita para o avô apertar a camisa (que ela escolheu) e meter as costas direitas!

Especados à porta, direitinhos, bonitinhos e cheirosos, assim que o neto chega, ela acrescenta um sorriso de orelha a orelha!

Se se espera que o neto fique para almoçar, então a mesa estará arranjadinha, com loiça bonitinha e paninhos (individuais) limpinhos...

Se eu não soubesse já que essa é a reação quando recebem o meu irmão, poderia pensar que vinha aí o Sr. Presidente ou, quem sabe, um Rei.

Pensando bem, para eles assim é...




Palavras Cruzadas

As palavras cruzadas são o vício d'Avó.

Ela é capaz de passar horas seguidas a fazê-las e o avô não gosta nada disso... Mas ela não liga!

Diz que faz bem ao cérebro e fica muito contente quando consegue acabar um desses puzzles de palavras. Chega a ficar mesmo orgulhosa com a sua rapidez!

Realmente faz bem ao cérebro, mas neste caso é mais pelo exercício de criatividade que a Avó desenvolve... Quando não sabe a palavra, acaba por inventá-la... Di-la em voz alta e, se soar bem e couber nos espaços, é porque é assim mesmo...

Há uns anos, eu interrompia-a sempre que ouvia uma suposta palavra que não existe... Ela por sua vez insistia que era assim... E então ficávamos as duas a discutir as palavras cruzadas...

Agora deixo-a ser feliz e pronto.